Aos 63 anos de idade, o ator faz mais um tipo marcante.
Movido a pura alegria. Assim é Elias Gleiser, o intérprete do Canequinha, um simpático matusquela que protagoniza as cenas mais animadas e comoventes de Anjo de mim, a novela das 18h da Rede Globo.
Sem falsa modéstia, o veterano ator de 63 anos de idade diz que, em 32 de carreira, sempre fez tipos que conquistaram o público.
_ Acho que todos ainda lembram do Tio Zé de Sonho meu, e até do Pedrão de Livre para voar, que foi minha primeira novela na Rede Globo - recorda Elias.
Com uma memória de dar inveja a qualquer novato, o ator diz que tem a maior facilidade para decorar seus textos.
E ele também não esquece de sua estreia em televisão: foi como o milionário Ramiro de Se o mar contasse, uma novela de Ivani Ribeiro baseada em texto mexicano, exibida na TV Tupi em 1964.
_ Pertenço à Velha Guarda, sou do tempo em que se fazia televisão ao vivo. Era mais difícil, mas a gente se entregava à emoção e ia. Aposto que se fosse decretado que a partir de amanhã as novelas seriam ao vivo de novo, só entrariam comerciais no ar. Com a facilidade da tecnologia, os atores já não se concentram tanto. É muito fácil errar, parar tudo, gravar de novo e depois editar - entrega Elias.
Mas a observação nada tem de critica. Pelo contrário, é feita com o tom de humor a que o ator gosta de recorrer em tudo que faz.
Solteiro, sem dívidas e apaixonado por pescarias, Elias não tem porquê se envolver em polêmicas. Paulistano, quando está em sua cidade, divide um apartamento com uma irmã, e, no Rio de Janeiro, aluga outro na Barra, onde mora sozinho.
_ Encalhei. Tive grandes amores, mas os anos foram passando... Mas também nunca tive nenhuma grande decepção. Comigo as coisas vão acontecendo. Outro dia fui ao shopping comprar um terno, porque eu não tenho um,e acabei comprando um box para o banheiro. Ah! Outro dia eu compro o terno -afirma ele.
Apreciador de uma cervejinha gelada, de uma sauna e de uma boa comidinha, o ator já sonha em se entregar à boa vida depois que terminarem as gravações de Anjo de mim.
_ Não vou fazer nada. O bom é acordar quando quero, pegar um cineminha, jantar com os amigos, pescar... - ensina Gleiser.
Mas, enquanto as férias não chegam, ele tem que suar com as vestimentas rústicas e quentes e carregar os badulaques de Canequinha. Na verdade, o mendigo é a reencarnação do velho Germinal (Fábio Sabag), o pai de Valentina (Carolina Kasting).
E, em sua inocência que muitas vezes beira o grotesco, ele guarda o segredo da identidade da verdadeira reencarnação de Valentina: a sua companheira Lavínia (Vivianne Pasmanter), ou Lavina, como diz o Canequinha.
Fora da ficção, Elias não quer saber dessa história de regressão a vidas passadas.
_ Estou muito feliz onde estou. Não quero arrumar sarna para me coçar - diverte-se o animado ator.
Fonte: jornal O Globo
Data de publicação: 22 de dezembro de 1996
Nenhum comentário:
Postar um comentário