Blog em homenagem à novela de Walther Negrão, exibida entre 1996/1997, às 18h, pela TV Globo

Pronto para cumprir a missão



Autor cria sua primeira trama espírita, Anjo de mim, a próxima novela das 18h da Globo.

Há pelo menos duas décadas, Walther Negrão pensa em escrever uma trama espírita. Mas não foi por falta de oportunidade que o autor da Rede Globo demorou a abordar um dos temas que mais conhece.

Kardecista há 30 anos, ele sempre esteve cercado de amigos insistentes, aqueles que mal podiam esperar por sua primeira novela do gênero. Só agora, no entanto, Negrão encontrou a fórmula que promete acabar com as expectativas.

Usando a regressão para unir o presente ao passado, o autor poderá contar uma bela história sem exigir muito do público que não tem conhecimento de causa.

Resolvida a questão, Anjo de mim estreia em setembro na Globo.

O GLOBO: Você já fez ou planeja fazer uma regressão?

WALTHER NEGRÃO: Nunca. E nem quero. Regressão não é uma coisa para se fazer por curiosidade ou "xeretice", para saber se, em alguma vida passada, fomos a Rainha de Sabá. Os psiquiatras especializados só recomendam a regressão a quem tem problemas. Esgotados todos os recursos da medicina, aí sim, a pessoa pode optar pelo processo para descobrir se uma determinada doença pode ter se originado no passado.

- O personagem principal de Anjo de mim descobre que fez um pacto de amor numa vida passada através da regressão. O que o leva a apelar para o processo?

NEGRÃO: São dois problemas: ele não fica com mulher nenhuma por muito tempo e tem fortes dores no braço. Escultor, o personagem, que será interpretado por Tony Ramos decide fazer então a regressão. É quando ele descobre que se comprometeu com uma mulher no passado e que as dores são causadas por um tiro que levou numa batalha em 1860.

- Quais são as chances de uma pessoa reconhecer alguém com quem conviveu numa vida passada?

NEGRÃO: As pessoas voltam com várias marcas. Não só semelhanças físicas corno, muitas vezes, têm a mesma caligrafia de uma vida passada. Os estudiosos garantem, inclusive, que elas costumam voltar no mesmo grupo. Ou seja, sem saber, elas estão sempre cercadas de pessoas com que já conviveram antes. São histórias reais que caem maravilhosamente bem na ficção.

- Há quanto tempo você segue o espiritismo?

NEGRÃO: Eu e minha mulher somos kardecistas há 30 anos. Logo depois do casamento, começamos a participar da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas, que fica em Curitiba. Chegamos até a fundar uma filial desse centro no Rio de Janeiro, na década de 70.

- Por que você levou tanto tempo para escrever uma trama espírita?

NEGRÃO: Já me cobraram muito isso. Na verdade, nunca fiz uma novela espírita com rótulo, mas sempre passei os conceitos do kardecismo nas minhas tramas. Agora, além de achar que estou mais maduro, aproveitei a história da regressão, que tem um pé na ciência e me dá a oportunidade de falar disso de uma forma universal. Quando tive essa sacada, decidi escrever logo, antes que algum filme americano abordasse o mesmo tema.

- Você tem recebido algum auxílio nas sessões espíritas?

NEGRÃO: De jeito nenhum. Imagine se os espíritos lá têm tempo para se ocupar com a minha novela (risos). Quando sento no computador, procuro me concentrar muito, e isso me ajuda imensamente. Mas, em momento algum incomodo os espíritos. Até porque essa é a minha missão: já tentei ser vendedor, arquiteto e engenheiro, mas só parei quieto quando me convenci que o jeito era escrever novelas.

- E quanto ao filme? Você não está preparando um roteiro com a ajuda de espíritos?

NEGRÃO: A história é a seguinte: me encomendaram um roteiro sobre o Barão do Cerro Azul, um homem de fundamental importância no desenvolvimento de Curitiba. Depois de pesquisar em livros e só encontrar referências históricas, decidi ir ao Paraná consultar o espírito do Leocádio José Corrêa, mentor do nosso centro, que era cunhado da figura em questão. Batemos um papo de meia hora e ele não só me contou um pouco da intimidade do barão como me indicou parentes seus ainda vivos.

- A última trama espírita a ao ar foi A viagem, de Ivani Ribeiro. É uma grande responsabilidade chegar depois desse grande sucesso?

NEGRÃO: É até engraçado, desde que comecei a escrever esta trama, muita gente brinca dizendo que estou psicografando a Ivani. Mas a verdade é que tenho um profundo respeito pelo trabalho dela e, por isso, vou homenageá-la em Anjo de mim. Sabendo que Ivani era fã de orquídeas, criei um orquidário na novela. Foi a forma que encontrei para dar uma flor a uma autora que respeito demais.

- Como está sua situação na Rede Globo? Você assinou com o SBT, mas está decidido a ficar na emissora carioca?

NEGRÃO: Estou com um pé nas duas canoas. Gostaria de ficar na Globo mas entreguei o problema ao departamento jurídico da emissora. Eles disseram que, se eu tivesse lido o código de ética, não deveria ter assinado com o SBT. Mas não sabia disso e assinei. Agora, eles têm que resolver a questão burocrática para que eu possa continuar na casa. O meu contrato com a Globo termina em outubro de 1998 e, até lá, ainda escreverei outra novela.


Fonte: jornal O Globo
Data de publicação: 14 de julho de 1996
Repórter: Renata Reis

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