Blog em homenagem à novela de Walther Negrão, exibida entre 1996/1997, às 18h, pela TV Globo

Delegado intocável e cheio de charme


Depois de viver uma drag queen, Floriano Peixoto ganha um sóbrio policial em Anjo de mim.

Sarita Vitti agora é apenas uma lembrança. Um ano após ter feito sua estreia em novelas, interpretando uma drag queen em Explode coração, Floriano Peixoto volta à televisão vivendo um papel totalmente masculino em Anjo de mim, a trama das 18h da Rede Globo.

Ele é Geraldo, o delegado que investiga o desaparecimento de Bianor (José Wilker), assassinado no primeiro capítulo da novela. E que, em breve, iniciará um romance com Divina (Cláudia Alencar), a ex-amante da vítima.

_ O Ricardo (Waddington, diretor) me deixou à vontade para compor o personagem como eu me sentisse melhor, mas, até para fugir da influência da Sarita, achei melhor fazê-lo o mais próximo possível de mim. Não que eu tenha alguma tendência policial - avisa o ator.

E, se é para mudar, que seja uma mudança radical. Depois de meses se equilibrando em salto alto, usando roupas femininas, unhas postiças e uma cabeleira que lhe exigia horas de salão de beleza, Floriano agora adotou a linha impecável, à la Eliot Ness, o elegante policial do filme Os intocáveis.

Tudo para fugir do estereótipo popularesco do delegado com o pé sobre a mesa, cigarro ao canto da boca e gravata desalinhada.

_ Ele é um homem sóbrio, educado, e tem um lado meio sedutor - diz Floriano.

Em busca de tranquilidade dos atores veteranos - Para quem passou dez anos representando tipos "estranhos" no teatro, sob a direção de Moacyr Góes, e se destacou na televisão interpretando um personagem de composição e polêmico, fazer o simples pode ser bastante complicado.

_ Sempre fiz personagens de composição no teatro e agora tenho dificuldade com o natural. Aliás, para mim, o difícil é fazer televisão. No inicio, eu queria olhar no olho do outro ator, como no palco, e acabava ficando de costas para a câmera.

_ Gostaria de ter a tranquilidade dos outros atores, mas isso só o tempo vai me dar - afirma ele.

A popularidade que a TV proporciona já não é novidade. O ator diz que está "escolado". Observa, porém, que, depois que deixou de usar a cabeleira de Sarita, a maioria das pessoas deixou de reconhecê-lo nas ruas.

_ Algumas até me identificam, mas já não existe mais aquele frisson de antes - explica Floriano.

Na agenda, trabalhos em televisão, teatro e cinema - Orgulhoso de sua drag queen, de quem ele inclusive guardou o aplique de cabelos como recordação, Floriano faz questão de esclarecer que a personagem em nada contribuiu para que ele se separasse de sua mulher, a atriz e bailarina Lúcia Canário, com quem está casado novamente.

_ A separação fez parte da minha história com a Lúcia. Não foi a primeira vez que aconteceu. A única coisa que me incomodou foram os boatos de que eu estava namorando outras. Se eu estivesse mesmo, não teria porque esconder - esclarece Floriano.

E, demonstrando que está em clima de lua-de-mel, o ator manifesta o desejo de ainda trabalhar ao lado da mulher, que nesta Terça nobre, na Rede Globo, estará dançando no Não fuja da Raia.

Um irmão para Júlia, filha do primeiro casamento de Lúcia, também está nos planos do casal.

_ Estou louco para ter um filho. Estamos programando, só falta eu chegar em casa mais cedo - brinca Floriano.

Pior que ele não está tendo tempo para nada mesmo. Assim que terminou de gravar Explode coração, o ator viajou para o nordeste onde filmou A ostra e o vento, de Walter Lima Jr.

Nesse trabalho, Floriano se entregou a mais um personagem de composição. Ele fez Roberto, o filho de uma ex-prostituta, pobre, maluco, mudo, com a cabeça cheia de furos e que sofre de epilepsia. O filme entra em circuito ano que vem.

Assim que ele voltou, entrou para o elenco da peça A dama do mar, texto de Ibsen e direção de Ulysses Cruz, que será encenado no espaço cultural que está sendo construído no pier da Praça Mauá, no Rio.

Agora, Floriano se divide entre Anjo de mim e os ensaios do espetáculo, em que interpreta um professor sedutor. Mas também naturalista.


Fonte: jornal O Globo
Data de publicação: 29 de setembro de 1996
Repórter: Helena Corrêa

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