Blog em homenagem à novela de Walther Negrão, exibida entre 1996/1997, às 18h, pela TV Globo

Ela não quer nem saber de descanso


Há dois anos sem férias, atriz de Anjo de Mim acumula novela com aulas de interpretação.

Voz baixa, gestos contidos, olhar calmo. Que ninguém se deixe enganar pela timidez de Viviane Pasmanter. A atriz, que interpreta a Lavínia de Anjo de Mim, tem muita determinação.

Há dois anos sem férias e em sua quarta novela depois de estrear na TV em Felicidade (1991), ela mantém suas aulas de interpretação e de dicção, mesmo durante as gravações da novela das 6.

"A voz sempre foi meu ponto fraco", reconhece Viviane, que reclama da postura da maioria dos atores novatos. "Em geral, o erro de quem inicia não é não saber atuar, é não estudar", diz. "Tem gente mais preocupada com maquiagem e figurino do que com o personagem."

"Um ator como Raul Cortez está estudando muito para fazer um personagem tão bem-feito como o Geremias Berdinazi de O Rei do Gado", avalia. "Se Raul Cortez tem tanto trabalho para entrar em cena, por que quem está começando não teria?"

Viviane diz trabalhar duro para melhorar sua personagem. "A Lavínia fala rápido demais e em algumas cenas as pessoas não entendem." Além dos exercícios diários de interpretação antes das gravações, o contato contínuo com o autor Walther Negrão tem sido um estímulo, segundo a atriz.

Ivani Ribeiro (autora de Mulheres de Areia, reprisada na Globo às 14h15, em que Viviane interpreta a amalucada Malu) não tinha o hábito de conversar com o elenco, mas com o Negrão a gente tem muito diálogo", diz. "É como poder conversar com Deus."

Mesmo com pouco tempo na TV, Viviane é um caso raro de intérprete que conseguiu personagens diferentes umas das outras. "Quando eu fazia escola de artes dramáticas, todos diziam que eu sempre faria a boazinha porque sou pequena e tenho essa carinha", lembra. "Mas quando veio o primeiro convite, fiquei surpresa porque foi o contrário."

Tipos - A atriz considera um presente ter estreado na TV com uma personagem forte como a Débora de Felicidade, porque, segundo diz, o processo de trabalho era sofrido.

O segundo convite, para ser a Malu de Mulheres de Areia, veio três meses depois de terminada sua primeira novela. "Ela era mais divertida porque aprontava de tudo, a começar pelo figurino", lembra. "Foi gostoso fazer coisas em cena que não se pode fazer na vida, como quebrar copos contra uma parede."

A Irene de A Próxima Vítima é considerada por Viviane sua personagem mais difícil "porque era a mais normal", a que exigia atuação mais naturalista. "Me sentia andando sobre uma linha estreita, não dava para sambar muito."

Hoje, a atriz considera uma vantagem interpretar uma heroína romântica que não possui glamour. "Ela é pobre, sem cultura e tem aquele tipo de pureza de certas crianças que de ingênuas não têm nada", analisa. "A Lavínia não ter glamour é até gostoso porque é chegar e gravar, sem essa história de cabeleireiro e de figurino."

O fato de Lavínia ter doses de humor não é sinal, para Viviane, de uma nova tendência a ser seguida pela atriz na TV. "A Lavínia é legal porque faz humor sem saber, mas não sei se vou ser chamada para tipos engraçados por causa disso", avalia. “Acho o humor na TV uma coisa difícil, porque precisa ser muito calculado, quase matemático, para ter o tempo certo", continua. "Não busco em meu trabalho nada assim tão específico: embarco no projeto ou na personagem"

Crítica - Viviane prefere não ver novelas. "Não tenho tempo nem paciência, ainda mais porque não consigo entrar numa história porque fico analisando tudo, principalmente o trabalho dos atores", diz. Mas a atriz garante ter motivações para gostar de estar em novelas. "E o gênero mais desafiador e difícil para um ator porque é uma obra aberta na qual não há tempo para ensaios."

Além dos vícios dos atores novatos, a atriz vê com reservas a atuação em comerciais. "Sempre peço um cachê muito alto para não precisar fazer anúncios porque, quando há um público que confia em você, fica moralmente delicado fazer comercial de algo em que não se acredita", diz. "Grande parte da população é de analfabetos cuja relação com a realidade é pelas novelas: se faço um personagem com apelo popular e apoio um político ou elogio um produto, muitos aceitam o que indico."

Calote - Em sua passagem pela Argentina, no ano passado, a atriz levou um calote do produtor argentino Gustavo Bermudes. Morou quatro meses em San Martin de los Andes, uma cidadezinha no sul da Argentina "do tamanho de dez quarteirões", para gravar a novela Além Luz de Luna. "Morava num bosque quase deserto", lembra.

Como não lhe pagavam, abandonou a produção e voltou para o Brasil.

Para sumir da história, os autores fizeram sua personagem voltar para o Brasil, porque o mocinho descobre que ela tem um filho que abandonou no país.

É o pretexto para o galã se decepcionar com ela e se apaixonar por outra. "Quando saí da novela a audiência caiu porque a trama ficou sem sentido."

Viviane não se arrepende de sua temporada nos pampas, mesmo agora, que está tentando conseguir na Justiça a quantia estipulada. "Se soubesse que iria acontecer aquilo, teria ido só para ficar naquele lugar, que é um paraíso", afirma.

Ela diz que o contrato proíbe a exibição da novela no Brasil. "Não deixaria que a mostrassem aqui: os argentinos são atrasados".


Fonte: jornal O Estado de S. Paulo
Data de publicação: 12 de janeiro de 1997
Repórter: Sônia Apolinário

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