Blog em homenagem à novela de Walther Negrão, exibida entre 1996/1997, às 18h, pela TV Globo

Autor trata regressão com seriedade; psicóloga compara terapia ao tarô



Ao recorrer à terapia de regressão, Floriano (vivido por Tony Ramos) descobre que a sua inexplicável dor no braço direito tem origem no século 19 quando ele encarnou Belmiro, um tenente da Guarda Nacional que acabou ferido durante uma batalha.

A cena, programada logo para os primeiros capítulos da novela Anjo de Mim, não é pura ficção.

Pelo menos na opinião dos parapsicólogos que aplicam a técnica em seus pacientes e prometem revelar a origem e, em alguns casos, até mesmo a cura de problemas de saúde.

"Cenas como essa, em que o paciente descobre o porquê de uma dor ou uma doença, são comuns em sessões de regressão. O problema pode ter origem em uma vida passada ou mesmo nessa, no período da infância", diz Edilson Correa, parapsicólogo e hipnoterapeuta regressivo.

ALTERNATIVA - A regressão, no entanto, não é reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia. ''Como a eficácia da técnica não é comprovada cientificamente, encaramos como mais uma prática alternativa, assim como o tarô e a cartomancia", afirma Elizabeth Batista, 45, professora doutora em psicologia clínica na USP.

Os parapsicólogos argumentam que a regressão atua positivamente no tratamento de qualquer problema de saúde ao provocar uma ''reconciliação" do paciente com o seu passado.

"Primeiro, o paciente entra em relaxamento profundo, estágio em que o consciente interfere menos e deixa aflorar a origem do problema. Depois, é preciso desligá-lo da emoção negativa ligada ao fato que a pessoa viveu", conta a parapsicóloga Renate Tirller, 47.

Anúncios de regressão publicados em jornais citam outros problemas que seriam eliminados com a prática como ansiedade, trauma, fobia, angústia, depressão e crises de auto-estima. "Muitas pessoas me procuram apenas por curiosidade. Querem saber o que foram em outras vidas", afirma Correa.

Com a estreia da novela, os profissionais acreditam que a procura por parte do público "curioso" deve aumentar. Consciente da repercussão, Walther Negrão, 55, o autor de Anjo de Mim, destaca que não se trata de uma brincadeira.

"Vou apresentar a regressão como um tratamento sério. A técnica só deve ser aplicada quando todas as outras possibilidades estiverem esgotadas", diz. Negrão ressalta que uma simples sessão pode se transformar em um pesadelo.

"Não se deve fazer uma regressão como quem encomenda um mapa astral. O paciente pode descobrir que morreu de câncer em uma vida passada e carregar esse medo para sempre", afirma o autor.

O médium Hermenegildo Lopes, 76, adverte que nem todas as pessoas estão preparadas para saber o que aconteceu em outras vidas. "Nos centros espíritas, por exemplo, o mentor só conta se essa informação vai ajudar no tratamento", afirma.

MEDO DE AVIÃO - A pedagoga Rosires Pires, 36, reconhece que, durante a regressão, coisas boas e ruins vêm à tona. "Descobri que vivi momentos terríveis, mas isso me fortaleceu. Consegui perder o medo de avião e enfrentei 30 horas de viagem até a China", conta.

A atriz Tássia Camargo, 35, nunca fez regressão, mas acredita que "nada ocorre por acaso"'. Em Anjo de Mim, ela interpreta Antônia, a marchand que se apaixona por Floriano e o convence a procurar um terapeuta.

"Acho importante explorar o lado espiritual em uma novela. Como sou adepta do kardecismo, acredito em reencarnação e que cada um de nós tem uma missão nessa vida", diz.

O umbandista Milton Gonçalves, 62, que faz o papel do Mestre Quirino, se sente confortável ao atuar em uma história com fundo espiritual. "A trama enfoca os conflitos do passado que ainda se manifestam no presente. Até quem não acredita em reencarnação vai se divertir procurando os elos de ligação."

PACIENTE DIZ QUE SE CUROU - A escriturária Edna da Silva, 37, iniciou a terapia da regressão há três meses. "Eu renasci. Antes de procurar ajuda, só sentia vontade de morrer", diz.

Edna conta que era uma pessoa desequilibrada emocionalmente e que tinha fortes dores no pescoço. "Descobri que o problema começou na infância. Minha avó me obrigava a cuidar de minhas duas irmãs menores e não me deixava chorar".

Durante as sessões, Edna diz que reviveu esses momentos e os superou. "Depois, passei a encarar a vida de outra forma."



Fonte: jornal Folha de S. Paulo
Data de publicação: 8 de setembro de 1996
Repórter: Eliane Guerini

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