Blog em homenagem à novela de Walther Negrão, exibida entre 1996/1997, às 18h, pela TV Globo

Orgulho de ser romanticamente correto


Quase cinquentão, Tony Ramos vence a barreira do tempo com tranquilidade e, com talento e carisma, se mantém como galã nos folhetins da Rede Globo.

Tony Ramos é um caso raro. Enquanto muito se fala em crise de galãs - e não são poucos os nomes que surgem e somem com a mesma rapidez - o ator relaxa e completa 33 anos de carreira ainda ocupando o posto tão disputado.

Embora aspirantes e coroados insistam em disfarçar a vaidade negando o título, não há como fugir dessa definição para o papel do mocinho que tem participação decisiva nas intrigas de amor dos folhetins.

Aos 48 anos, Tony não precisa mais correr atrás destes personagens. Basta uma dieta que o mantenha no seu peso ideal, alguns alongamentos, e lá está ele, de cara lavada, interpretando dois heróis em Anjo de mim, a novela das 18h da Rede Globo.

E não fica só nisso. Com tranquilidade e profissionalismo, o ator consegue cumprir uma agenda que faria qualquer novato perder o fôlego.

NOVELA, PROGRAMA INTERATIVO, ESPETÁCULO TEATRAL E UM FILME

De segunda a quarta-feira, Tony passeia pelo passado e pelo presente gravando as cenas de Floriano e Belmiro, seus personagens na trama de Walther Negrão.

Toda quarta-feira, sai correndo das gravações, pega a ponte-aérea e vai para São Paulo, de onde apresenta, ao vivo, à noite, o Você decide.

De quinta-feira a domingo, permanece na capital paulista para as apresentações da peça Cenas de um casamento, de Ingmar Bergman. Este mês, Tony estará ainda nas telas dos cinemas em O pequeno dicionário amoroso, de Sandra Werneck.

_ Claro que me cansa fazer várias coisas, não sou herói. Aliás, odeio essa palavra. Herói é quem consegue sobreviver com tantos problemas - afirma ele. - Mas eu não complico minha vida, sou muito zen. Falem o que quiserem, eu toco meu barco. Meu trabalho e meu público é o que interessa.

ATOR NÃO RESISTIU À CHANCE DE VIVER UM HOMEM EM CONFLITO

Bem que Tony planejava ficar um período de tempo maior longe das novelas. Depois de se despedir do roliço feirante Juca de A próxima vítima, em novembro do ano passado, ele já estava até se preparando para voltar ao teatro. Inclusive, fazendo regime para perder os oito quilos acumulados para a novela de Sílvio de Abreu.

Mas, após ler as 110 páginas da sinopse de Anjo de mim, ficou difícil recusar o convite do autor Walther Negrão para ser o protagonista da história de um homem que, através da terapia de regressão a vidas passadas, descobre que marcou um encontro com sua amada em outra encarnação.

Tony, que há dez anos participou da primeira versão da novela A viagem, de Ivani Ribeiro, na TV Tupi, destaca que a trama de Walther Negrão não se preocupa apenas com a temática espírita. Para ele, o importante é deixar claro que o texto não tem compromisso com a realidade absoluta.

_ Quando li a sinopse, vi a possibilidade de se falar da busca do amor, uma palavra tão desgastada e, ao mesmo tempo, usada com muita facilidade. Achei fascinante aquele homem em conflito consigo mesmo, com seu trabalho, sem uma identidade conhecida. É aí que entra a licença poética, nos mistérios que envolvem esse homem - instiga o ator.

Tony reconhece que misturar passado e presente numa novela é uma tarefa muito difícil, e que o público, muitas vezes, pode ficar confuso com situações que não ficam bem esclarecidas de um capítulo para o outro.

Mas ele avisa que o autor ainda tem muitas "cartas na manga" e que novas situações irão aumentar o interesse dos telespectadores.

Apesar de prevalecer o perfil do bom moço na galeria de personagens que interpretou, Tony foge desse estigma e faz questão de lembrar que já mostrou várias nuances de seu talento, passando pelo drama e pela comédia.

E não foi apenas em novelas. Em 1985, viveu um dos momentos mais marcantes de sua carreira na pele do jagunço Riobaldo da minissérie Grande Sertão: veredas, baseada na obra de Guimarães Rosa.

A veia cômica - já revelado em 1989, ano em que interpretou o Tônico de Bebê a bordo, de Carlos Lombardi, ficou mais evidente há dois anos, quando participou do programa que deu origem à série A comédia da vida privada.

_ Sou defensor da emoção e você a encontra no humor. Emoção não é uma lágrima escorrendo, mas sim, a paixão com que se diz um texto. Assim eu entendo a minha profissão - comenta Tony.

Este ano, o ator mergulhou pela primeira vez no universo de Nelson Rodrigues, participando dos primeiros episódios do quadro A vida como ela é..., do Fantástico. Ali era o veterano num elenco formado por Cláudia Abreu, Malu Mader, Marcos Palmeira, Guilherme Fontes e Leon Góes.

Contracenar com atores de outras gerações não é problema para o ator. Em Anjo de mim, interpretando Floriano, o escultor que no presente procura entre três mulheres aquela que é a reencarnação de Valentina (Carolina Kasting), Tony faz par romântico com três mulheres bem mais jovens: Paloma Duarte (Elvira), Vivianne Pasmanter (Lavínia) e Helena Ranaldi (Joana). A diferença maior de idade é em relação a Paloma, que tem 19 anos.

_ Por temperamento, jamais me ligaria a alguém tão jovem. Agora, sob o ponto de vista profissional, é um ator vivendo uma situação com uma atriz. Não tenho preocupação alguma em contracenar com uma atriz mais nova que minha filha - assegura o ator.

UM CASAMENTO QUE CONSERVA A MAGIA DO GRANDE AMOR

Para explicar o fato de ser o único ator que participa das duas épocas da trama, Tony usa os conhecimentos que adquiriu após estudar a temática da reencarnação.

_ Na corrente espírita, há dois tipos de experiência: uma em que a pessoa se vê, como ela é hoje, numa situação em outra vida. E outra em que ela volta ao passado, mas aparece com outro rosto. Optamos por mostrar o Belmiro com a mesma aparência do Floriano - explica.

Se na ficção seu personagem vive em busca de sua alma gêmea, na vida real, o ator já encontrou a sua.

Casado há 27 anos com Lidiane e pai do médico Rodrigo, 26 anos, e da advogada Andréa, 24, Tony assume ser um eterno apaixonado. E a recíproca é verdadeira: Lidiane acompanha o maridão em todo esse corre-corre.

_ Ela sempre me acompanha. No ano que vem, quando excursionar com a peça, com certeza, a Lidiane irá comigo. Entre nós há uma parceria. Nos casamos muito jovens e imaturos. Aos poucos, fomos nos conhecendo e a mágica do grande amor nunca se apagou. Ela é, definitivamente, a minha alma gêmea - conclui Tony.


Fonte: jornal O Globo
Data de publicação: 6 de outubro de 1996
Repórter: Elena Corrêa

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