Márcio Garcia conquista sua independência fazendo grandes negócios longe dos estúdios.
Márcio Garcia é um ator de negócios. Daquele tipo que não espera sentado a próxima cena: entre uma gravação e outra da novela Anjo de mim, o rapazinho de 26 anos está sempre resolvendo "pepinos", traçando planos, fazendo contas e sendo chamado ao telefone para tomar alguma decisão de extrema importância.
Isso, no estúdio. Fora dele, Márcio dá plantão no bungee jump da Barra da Tijuca, seu mais novo empreendimento, ou gasta horas supervisionando as obras da loja de roupas Eject, que inaugura em Ipanema até o fim do mês.
Há ainda mais uma chance. Se não estiver lá nem cá, o bonitão do horário das 18h trabalha em casa - ou melhor, no casarão com piscina, quadra de vôlei e jardins de Burle Marx que acaba de comprar no Joá. É um bem-sucedido ator de negócios.
_ Desde pequeno, sou assim. Sempre quis batalhar a minha grana sozinho. Com meu primeiro salário, na época de colégio, comprei metros de taktel, transformei em shorts de praia e vendi para os meus amigos. Vou além: ainda bebê mandava minha avó parar de balançar o berço, apagar a luz e sair do quarto. Ela ficava horrorizada. Mas o que eu posso fazer? Nasci com esse espírito independente - confessa ele.
O ator é sinônimo de esporte, desde o início da carreira independente e aventureiro.
Desde o início da carreira, Márcio Garcia vem passando por muitas provas de fogo. Estreou na TV apresentando o MTV Sports, comandou o primeiro e já extinto programa de gincana da Rede Globo, nadou nos mares de Fortaleza para viver o Cassiano de Tropicaliente, fez umas performances de luta livre como o esquentado Guiga de Cara & Coroa e, agora, além de cavalgar e correr de moto na pele do Nando Monterrey de Anjo de mim, se joga todo fim de semana de 40 metros de altura para promover sua nova fonte de renda.
_ Dois amigos meus de São Paulo trouxeram o bungee jump de Los Angeles. Eu e o Mário Sérgio, filho do José Hugo Celidônio, dividimos a sociedade aqui no Rio. O negócio está indo muito bem: são, em média, 60 pulos por dia - calcula o ator-empresário.
Loja e casa do Joá acabaram com as reservas do ator - Apesar de o bungee jump estar rendendo à dupla certa de R$ 72 mil por mês, Márcio Garcia jura que está em fase de contenção de despesas.
Explica-se: além de ter desembolsado recentemente suas reservas para a compra de uma supercasa no Joá, ele já gastou R$ 120 mil com as obras da loja Eject, uma grife de street wear, que lançará em setembro com a inauguração de uma loja na Rua Garcia D'Ávila, em Ipanema.
_ Meu nome virou Márcio Garcia D'Ávila. Todo santo dia, vou à loja tratar dos últimos detalhes. Já gastei multa grana com isso. Agora, fiquei duro. Estou batalhando por qualquer R$ 200 - diverte-se ele.
Mas isso não é problema para quem vive afogado em números. Além de todas essas ocupações, Márcio também faz uns "bicos" dirigindo comerciais em Juiz de Fora, onde moram seus pais. E não é tudo: no balanço final, ainda entra o salário da Rede Globo.
_ Estou adorando Anjo de mim. É muito legal. E fico contente porque o Walther Negrão é um dos poucos autores que sabem segurar uma novela do início ao fim - elogia.
O papel não traz tantas novidades. É a terceira novela de Márcio na emissora e o terceiro personagem bonzinho. Mas tudo bem: ele não tem a menor dúvida de que o futuro lhe reserva um implacável vilão.
_ No primeiro capítulo, tentei deixar o Nando um pouco esnobe, mas vi que não dava certo. Ele é bonzinho e pronto. Para falar a verdade, isso não me preocupa. Ainda tenho muito tempo pela frente e, com certeza, virão vários homens maus por ai - acredita.
O clima no set de gravações é outro ponto positivo do atual trabalho, Márcio contracena a maior parte do tempo com a novata Renata Dutra, atriz que interpreta sua namorada fictícia na história de Walther Negrão. E, a ela, só faz elogios.
_ A Renata é muito parecida comigo. Está sempre de bom humor, é educada e trata todo mundo bem. Isso é importante porque tem muito ator que, de repente, vira autista. Sai desse mundo para um universo em que só existem atores e diretores. Aí, fica complicado - comenta Márcio, com o jeitinho simples de sempre.
Mas, cá entre nós, depois de tanta "rasgação de seda", resta a pergunta: será que já há algo além de um amor de mentirinha entre o novo casal 20 da novela das 18h?
_ Imagina! De jeito nenhum. Não há nada entre nós. Só muito carinho - esclarece.
Novamente solteiro depois de oito meses de namoro - Além do mais, até pouquíssimo tempo, o disputado Márcio estava comprometido. O namoro de oito meses com a felizarda Sílvia Ribeiro terminou não faz nem um mês.
_ Agora, estou curtindo a vida sozinho. Trouxe meus quatro cachorros de Búzios para a casa do Joá e, aos pouquinhos, vou arrumando tudo - conta ele, satisfeitíssimo com sua mais nova aquisição.
Enquanto organiza a vida, Márcio concilia o agitado dia-a-dia com uma invejável paz interior. Ele não chega a ser um zen, mas, definitivamente, não faz e nem arruma confusão.
_ Na Globo, sou amigo de todos os inimigos. Tem gente que adora falar mal dos outros, e eu estou sempre no meio, desfazendo mal-entendidos, levantando o astral e tentando manter um clima legal de trabalho.
Realmente, Márcio não é o tipo que se mete em fofocas ou cria inimizades.
_ Só reclamo de mim. Sou muito chato comigo, crítico demais. Quando perguntam o que eu faço melhor, o papel de ator ou de apresentador, nem consigo responder - diz o humilde empresário de sucesso.
Fonte: jornal O Globo
Data de publicação: 22 de setembro de 1996
Repórter: Renata Reis
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